segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Sobrevivencia Desesperada- Capitulo 7

Matew On

   Mesmo depois de tomar o remédio, o corte parecia doer dez vezes mais, tornando meu sono quase impossível, mas depois de umas 2 ou 3 horas, o remédio fez efeito e finalmente consegui dormir em paz, em um sono sem sonhos ou pesadelos. Como não me acordaram para ficar de guarda, quando acordei, o sol já começava a nascer e a iluminar as selva que ainda nos cercavam. Me sentei com muita dificuldade por causa do corte que ainda doía, e quando olhei em volta vi Nara dormindo perto de mim e o garoto do 4 um pouco mais afastado fazendo careta em quanto dormia, mas nem sinal da Emy ou da garota do 4. Me levantei e peguei uma maçã dentro da mochila que separamos só para a comida, e fiquei lá, sentado comendo por um tempo. Fazia tempo que não comia alguma coisa que não fossem raízes e avelãs, então a maçã pareceu algo divino, acabei em um estante, e resolvi me encostar no tronco da arvore. Fiquei lá por um tempo olhando em volta, tentando achar as duas, mas delas nem sombra. Foi ai que comecei a ligar os pontos. Ela sabia o quanto Emy era importante para mim, o quanto podia vence-la com facilidade, e ela não queria fazer a aliança. E se ela tivesse fugido? Então por que o garoto ainda esta aqui? Se bem que ela não parecia concordar tanto com o garoto do distrito dela. E se...
   Me levantei num pulo e comecei a procura-las. Chamei o nome da Emy varias vezes e em nenhuma recebi alguma resposta,e fui chamando-a cada vez mais alto até que senti que fui derrubado no chão.
   - Você tem algum problema mental? Quer que saibam onde estamos, seu retardado?- ouvi alguem falando comigo com raiva e quando olhei para cima, vi a garota do 4
   Dei uma rasteira nela e a imobilizei
   - Onde esta a Emy?- perguntei rosnando
   - Calma, precisa ser tão impaciente?- Me virei e vi a Emy- Estou aqui, ta bem?
   Soltei a garota do 4 e me dirigi a Emy
   - Onde vocês foram, droga? E com a garota do 4?- falei e apontei para a mesma
   - Garota do 4? Por que não me chama de Maniaca logo- ela falou com tom de ironia e revirou os olhos- Caso não saiba, me chamo Coliz. Escuta, fomos caçar, deixa de ser dramático.
   - Calma ai Matew, só vamos voltar antes que mais algum deles venham nos procurar feito doidos.
   Voltamos para o nosso acampamento e elas começaram a preparar o animal que tinham abatido, que aliás parecia uma especie de ratazana com guaxinim, mas... não era. Não demorou muito e os outros acabaram acordando e comeram junto com a gente. O lado bom, é que durante a caçada, Emy acabou descobrindo uma coisa. Ela começou a cavar o solo até que o buraco começou a se encher sozinho.
   - Por isso o chão é tão mole e úmido- ela explicou
   - Então porque não tem água na nossa trincheira?- o garoto do 4 perguntou comendo mais um pedaço da caça
   - As arvores sugam toda a água que podem, por isso que o chão fica mais fresco, mas não com água.   Fora que precisa cavar mais fundo do que cavamos
   Comemos e bebemos água o quanto podíamos e decidimos que tínhamos que continuar nos distanciando, então começamos a recolher as coisas e apagar todos os traços que deixamos lá (enchemos a trincheira que fizemos com terra de novo, enterramos a fogueira, etc), depois voltamos a andar. A caminhada parecia bem mais fácil depois  que comemos decentemente pela primeira vez na arena, e era evidente que todos pareciam de bom humor, mesmo a garota maniaca do 4. O garoto do 4, que descobri de chamar Viller, até que se mostrou bem legal e engraçado, sempre tentando nos manter conversando, fazendo piadinhas e as vezes caindo já que estava meio distraído, ele era bem hiperativo.
   Na verdade passamos mais uns dois dias naquela ilha porque não achamos nenhum outro tributo e nenhum outro problema, fora que minha bussola deu algum defeito, se desmontou sozinha e decidiu parar de funcionar, então me livrei dela. Durante esses dias apenas ficamos comendo, andando e treinando usar nossas armas, e minhas lanças e os bumerangues com laminas as vezes, Viller com seu tridente e sua espada. Aliás,Emy e Nara acabaram aprendendo um pouco a usar uma espada com a ajuda do Viller e principalmente com a Coliz. Que maravilha, minha amiga e minha namorada socializando com minha inimiga que quase me matou, que coisa linda. Emy foi a que se saiu melhor, já que Nara desistiu depois que Viller achou no fundo da bolça de armas deles, uma caixinha com uma zarabatana e varios dardos. Nara parecia ter nascido pra usar uma daquelas, porque em pouco tempo ela estava ajudando a caçar animais com a zarabatana dela.
  Acabamos resolvendo que tínhamos que tentar ir em outra ilha, então começamos a arrumar nossas coisas mais uma vez e dessa vez tentar achar o litoral do lugar.Depois de mais um tempo andando, o suor começou a fazer meu corte coçar, e acabar estorando os pontos
   - Serio mesmo que você fez isso? Se você gosta tanto que eu te fure com uma agulha, saiba que posso fazer melhor com uma faca- a garota do 4 falou
   - Ta bom, ta bom, já parei- falei e voltei a andar
   - Sua sorte é que o corte já cicatrizou bastante. Não vou precisar fazer tantos pontos- ela felou e foi se afastando, mas eu podia ouvir ela reclamando e soltando alguns palavões.
   Continuamos andando por um tempo, as vezes só andando,as vezes conversando sobre como a Capital era estranha ou do que sentíamos falta no nossos distritos, mas isso era meio deprimente, então geralmente só andávamos. A caminhada começou a se tornar uma chatice, e cansativa.Tinhamos a intenção de ir até a Ilha do Oeste, mas ao que parecia, ia demorar muito, e todo mundo já estava reclamando por um lugar para parar, até que chegamos ao que devia ser o meio da Ilha. Era uma clareira, uma especie de campina no meio da selva em que o céu azul era visivel, mas era um lugar fresco por causa da briza que passava, a grama era baixa e verde, e por todo o lado, flores altas e grandes que mais pareciam cornetas brancas e que tinham um perfume otimo. O lugar era bem atraente e como Emy e Coliz já começavam a deitar na grama, resolvemos ficar.
   - Acho que é melhor irmos embora- Nara falava
   - Por que? o Lugar é otimo!- Perguntei já pegando uma maçã para comer
   - Não sei, mas... Tenho um mal pressentimento...
   - Escuta, estamos cansados e precisamos descansar. Acho que essa sensação é apenas porque você esta nos jogos vorazes onde todos querem ver seu sangue esguichar de seu corpo morto- Coliz falou e deu uma leve risada sinica, acompanhados pelas leves risadas nervosas de Viller e Emy, que riram mais por causa do sotaque da Capital que ela usou para falar a ultima frase- Relaxa!
   - Sei lá....- Nara falou meio indecisa, mas acabou se juntando a nós.
   Fiquei sentados no sol sentindo a brisa, até que senti o meu sangue escorrendo e lembrei que meu corte agora estava aberto. Lembrei a Coliz dos pontos e ela começou a me xingar, mas acabou me ajudando, o problema é que eu tenho certeza que ela estava fazendo cada agulhada ser pior do que a outra. Uma camada de pomada, uma pilula analgésico e finalmente estava novo em folha de novo, ou quase. Emy resolveu levar Nara para recolher algumas das flores para acalma-la, então continuei deitado no sol, cochilando um pouco.
   Não sei quanto tempo se passou, mas não muito depois, ouvi o grito da Emy seguido do da Nara. Me levantei e não só percebi como Coliz e Viller, que dormiram do meu lado, estavam agora vomitando, como também percebi que minha visão estava turva. Estava tonto como quando fiquei bêbado, porque a cada dois passo eu acabava caindo, assim como os outros. Tinha um cheiro estranho no ar, uma mistura de um perfume doce e enjoativo com sangue. Olhei em volta e com muito esforço percebi que as flores brancas, que antes estavam viradas para baixo, agora estavam viradas para cima, bem abertas, bem mais altas e soltando uma fumaça verde. Gás toxico
   - Tapem o rosto!- gritei para os outros dois que acabavam de vomitar só agora
Coloquei a minha camisa por cima do meu nariz, cobrindo também minha boca e assim consegui reter um pouco do gás, mas ainda sentia o cheiro do gás e continuava meio tonto. Viller e Coliz me imitaram e juntos nós começamos a andar na direção  do que parecia uma floresta de flores toxicas. Não andamos muito e demos de cara com a seguinte cena: Nara toda envolta por raizes e trepadeiras das flores, que se mexiam e a apertavam cada vez mais, em quanto Emy estava de cabeça para baixo, inconsciente, sendo segurada por mais trepadeiras das flores brancas e estava preste a ser engolida por uma das maiores flores que já vi, com o triplo do meu tamanho, coisas saindo da sua boca que mais pareciam línguas e espinhos que pareciam dentes. Resumindo, minha amiga estava sendo transformada em uma múmia de cipós e começando a perder a inconsciência já que não conseguia respirar, e minha namorada estava inconsciente (eu esperava) quase sendo comida por uma flor carnívora.
  Fui correndo na direção de  Emy, mas cai no caminho porque mais daquelas trepadeiras se enroscaram no meu pé. Enquanto tentava me desenroscar, Coliz pulou por cima de mim e foi correndo até ela, se desviando das trepadeiras que tentavam se enroscar nela como chicotes, mas ela desviou de todos e com uma faca em cada mão, ela começou a atacar a flor, tentando corta-la, mas o caule era firme e grosso, e os as trepadeiras a acertavam feito chicotes. Olhei para traz e vi que Viller tambem não estava se saindo melhor. Ele lutava muito bem, mas começava a ficar enroscado assim como Nara, que agora tambem tentava se libertar, mas vomitava e era esmagada.
   Me levantei e resolvi ajudar Viller e Nara. Corri na direção deles e joguei uma especie de bumerangue com laminas que Viller e Coliz tinham pegado dos carreristas, cortando algumas da plantas o suficiente para que pelo menos Viller conseguisse se soltar. Com a ajuda dele, conseguimos com muito esforço soltar a Nara, depois de ficarmos com o tornozelo preso e cairmos varias vezes (a ponto de que Viller tinha a boca sangrando e eu o nariz) e alguns aranhões.
   - Leva ela pra longe daqui! Tenho que pegar a Emy!- falei para Viller e sai correndo na direção de onde a Flor Carnívora estava
   Mas na verdade, não precisei lutar com ela, porque assim que cheguei, Coliz consegui cortar o caule da Flor, que caiu e murchou assim que tocou o chão, depois ela consegui por pouco pegar Emy que havia se soltado da flor, mas continuava inconsciente. Ajudei Coliz a se levantar, peguei Emy no colo (já que Coliz não conseguia carrega-la) e nós corremos para bem longe, na direção em que Viller tinha corrido com Narra e todas as nossas coisas. Não paramos e de correr até chegarmos na praia, onde cansados, todos nos caímos no chão sem folego, e eu finalmente larguei Emy e acabei vomitando. Enxuguei um pouco do sangue que ainda escorria do meu nariz e voltei para eles
   - O que... foi a-a-aquilo?- perguntei ainda tremendo e me sentindo tonto.
   - Fomos... Colher flores como... a Emy queria... ai ela achou uma que era bonitinha... e tudo começou a crescer... Gás toxico... trepadeira, não conseguia respirar.... A planta...- Nara falava sem folego e começou a soluçar.
   - E... E a E-Emy?- perguntei para Coliz, que começava a examina-la
   - Não sei ela... Parece que... Ela não esta mais respirando
   As ultimas palavras só fizeram sentido depois que olhei para Emy e vi seu rosto pálido e seu corpo contorcido no chão. Fui andando até ela, até que Viller me empurrou correndo e a beijou. Fiquei louco. Ia me tacar em cima dele e tentar mata-lo mesmo que não estivesse nas minhas melhores condições, mas Coliz é que se tacou em cima de mim e me imobilizou, em quanto eu gritava e tentava me libertar ela apenas dizia: "Quer para seu imbecil!" e  "Ele só esta ajudando!" , até que finalmente consegui joga-la para longe e consegui ir até lá, então vi que Emy estava agora ajoelhada com a cabeça baixa e Viller estava com a mão sobre o ombro dela.
   - Sorte a sua Viller ser especialista em ressuscitação- ouvi Coliz falar atras de mim e me virei para ela- Ele faz isso o tempo todo no 4. Afinal, pessoas afogadas até que são bem comuns lá em casa.
   Foi ai que comecei a intender. Comecei a ficar mais calmo e realmente feliz que Emy estava viva, até perceber que ela vomitava sangue aos montes, e que em minutos, ela tinha caído de novo no colo do Viller. Já ia começar a ficar desesperado de novo quando ele falou:
   - Ela só esta inconsciente-ele falou rápido
   Me ajoelhei do lado da Emy. Ela estava fraca e mais branca do que antes, mas pelo menos, ela respirava, calma, devagar e com dificuldade.
   Nenhum de nós estava disposto física e psicologicamente para andar, então resolvemos ficar na praia mesmo. Viller e Coliz foram procurar alguma coisa na água para comer, já que a comida que eles trouxeram começou a acabar, em quanto eu e Nara fazíamos a fogueira, algumas armadilhas mais longe do acampamento e arrumávamos os sacos de dormir que tínhamos, mas acima de tudo, cuidávamos de Emy, que mesmo quando o céu já começava a ficar escuro, continuava dormindo e sem melhoras. Comemos em silencio e sem muita fome, até que Nara perguntou:
   - Ela ainda está inconsciente?- ele falou e eu confirmei com a cabeça
   - Acho que como eu não conseguia respirar muito bem e estava mais longe das flores que soltavam o gás toxico, fui menos afetada, assim como vocês que depois acharam um jeito, mas ela ficou exposta ao gás direto.- Nara falou meio baixo, obviamente ainda meio enjoada
Continuamos em silencio por um tempo, e ninguém falava nada, com exceção da nara que fala em voz baixa, mais para ela do que para nós
   - Já vi aquelas flores uma vez... Gutt saberia o que fazer.... Aquele cheiro doce e enjoativo inconfundível... Podia acabar com tudo aquilo...- logo depois ela fez uma carreta e foi correndo para traz de um arbusto onde vomitou outra vez
   Não queria falar, estava cansado, acabado, e simplesmente arrasado pelo que acontecera, então fui me deitar e deixei eles decidirem quem faria a patrulha. Me acomodei em um dos sacos de dormir e tentei dormir, mas me revirava sem conseguir me sentir bem, só consegui cochilar por um curto tempo, sempre acordando. Maravilha de Noite

Matew Off


Coliz On

   Okay, definitivamente acho que nunca mais vou colher flores na minha vida, até porque, não quero que mais alguma planta qualquer tente me matar. Como se meus inimigos já não fossem suficiente. Obrigada Idealizados dos Jogos, seus sanguinários desprezíveis.
A pomada para machucados acabou depois que resolvi passar tudo em todos, e as pilular analgésica acabaram, então o próximo a se machucar mortalmente vai ter que suportar a dor até morrer. E isso incluí o garoto do 11.
   Sinceramente, ainda estou com uma certa raiva desse garoto, e sempre acabo chamando ele apenas de 11, e ele me chamava de Maniaca ou de 4, o que parece estar funcionando muito bem para nós dois. Continuo sentindo simpatia pela Nara, e agora praticamente andava tratando ela como minha irmã mais nova, e quanto a Emy, acabou se mostrando bem gentil e legal, por mais que a abominasse tanto como o garoto do distrito dele no começo, mas ela foi bem mais facil de encarrar já que era mais amigavel comigo. Isso antes de que ela fosse atacada por aquela planta assassina.
   Enfim, todos estavam cansados e machucado (pelo menos mais do que antes), exceto eu que não queria dormir de jeito nenhum por causa da adrenalina que ainda corriam pelas minhas veias e, até porque, durante a luta, a planta me fez bater a cabeça no chão com tudo, e alguma vez ouvi que quando alguém bate a cabeça tão forte não deve dormir porque alguma coisa ruim acontece então, alem de ficar com essa paranoia, fui a unica pessoa disposta a fazer a guarda e pedi aos outros para que fossem dormir. Fiquei lá, sentada olhando o mar, pensando no meu distrito, poque embora não tivesse ninguém lá mais que realmente se importasse comigo e sempre tenha me sentido deslocada, um dia considerava mau lar, um dia alguém lá se importava realmente comigo, e um dia eu fui feliz lá.
   Um pouco depois a insignia da Capital apareceu no céu, o ino foi tocado e ele sumiu. Ou seja, nenhuma morte. Na verdade, nenhuma morte já fazia uns dois ou três dias, o que era preocupante já que quando isso acontecia, os idealizadores dos jogos arrumavam algum jeito de tornar as coisas interessantes para eles, e assustadoras para nós.
   Fiquei lá sentada sozinha até que senti alguma coisa vindo na minha direção com passos leves e calmos, então por extinto, me levantei num pulo .e apontei minha faca para o que poderia ser, mas acabou que era apenas mais um coitado som sono.
   - Droga, 11, não chegue de fininho pelas minhas costas! Podia ter te matado- falei para ele e voltei a me sentar
   - Só achei que fosse querer companhia- ele falou e se sentou do meu lado
   - Bem se enganou, mas pode ficar se quiser- falei e voltei a me apoiar na rocha em que estava antes
   - Nossa, você é difícil, em?- ele falou e deu um sorriso, mas simplesmente não intendi a graça

   - Você também não ajuda muito- rebati
   Ficamos um bom tempo assim, em silencio, apenas um do lado do outro, e eu até que estava gostando disso, até que ele falou:
   - Escuta, só queria agradecer....por... salvar a Emy e... me impedir de matar o Viller- ele sorriu mais uma vez, dessa vez mais forçado.
   - Não fiz por você. Descobri que a Emy é legal e que ela é uma boa aliada- falei meio fria, mas depois de perceber isso, acrescentei- Mas de nada. Afinal, somos aliados não?- falei e pensei em sorrir, mas nunca fui muito boa em forçar um sorriso, e sabia disso, então apenas voltei a olhar para o mar.
   - É, acho que sim. Mas mesmo assim, acho que te devo uma.
   - Você já me devia uma- falei e apontei para a enorme cicatriz do meu olho
   - Mas essa ai você já retribuiu e muito bem com o corte no pescoço- ele falou meio indignado
   - Mas quem é que costurou você?- falei e acabei sorrindo
   - Okay, okay, te devo duas.
   - Talvez três por ter dividido com você as armas e comida- completei só pra zoar com ele
   - Tá, acho que já deu, né?- ele falou e fez uma cara estranha, então acabei rindo- Olha só, a maniaca saber sorrir.
   - Calado. E para de me chamar de Maniaca.
   - E você de me chamar de 11
   - Okay, você me chama de Coliz e eu te chamo de Metty
   - É Matew. Se você não falar meu nome direito...
   -Vai fazer oque?- desafiei
   - Isso- ele falou e me cutucou na costela, bem onde a alguns dias atraz estava quebrado. Acabei soltando um gritinho de dor. Droga- Como você...
   - Você fica protegendo as costelas toda hora- ele falou como se fosse a coisa mais normal do mundo alguém adivinhar uma coisa dessas assim- E tambem sei disso- ele falou e segurou a manga da minha roupa, deixando minha mão suspensa como se eu fosse um fantoche. Merda, os cortes.- minha unica pergunta é: porque?
   - Por nada- falei e fiz ele soltar meu braço, mas como ele continuava me encarrando, falei- Então pelo menos me fala como conseguiu descobrir esse!
   - Você esfrega os pulços toda hora, já vi eles enfachados varias vezes e as vezes estavam manchados, apesar de que a roupa cobre bem, não achei tão dificil notar essa, mesmo com a luva cobrindo.
   - Tambem não é dificil perceber que sua fraqueza é a sua namoradinha ali- Falei e apontei para onde Emy dormia- E é uma fraqueza e tanto
   Ele deu uma risada leve
   - Bem, é porque ela é importante pra mim e eu amo ela. Por isso estou aqui. Nunca teve alguem com que se importassetanto. Sei lé, ela... é uma das poucas coisas que tenho e ela me faz ter esperança sobre o futuro, o meu, o nosso, de todo mundo.
   -  Ai que coisinha mais fofinha- falei meio debochando
   - Como se você nunca houvesse procurado afeto e abrigo em alguem.
   - Mais ou menos... os que eu tinha... morreram- falei meio fria, já que nunca falei isso em voz alta, e assim que falei, consegui sentir a solidão que sempre tive.
   Matew me encarrou como se esperasse explicações, uma satisfação que não daria a ele, até que ele começou a me cutucar de novo, então falei que contaria.
   - Okay, então ai vai a explicação dessas perguntas todas que me fez até agora- falei e respirei fundo. Não queria mesmo contar, mas já que iria morrer mesmo, talvez fosse bom falar isso em voz alta uma vez na vida
   - Eu tinha um super pai e uma mãe maravilhosa- comecei a explicar- Os dois trabalhavam no mar, na coleta de peixas e frutos do mar,  e de vez em quando me levavam lá. Acontece que um amigo do meu pai começou a querer juntar uma rebelião para protestar contra a Capital, o sistema e tentar mudar alguma coisa, e meus pais era completamente a favor, tanto que era os mais importantes de todos no grupo rebelde deles. Alguns dias antes de começar a fazer o levante que tinham planejado, quando eu tinha 11 anos, eles foram trabalhar e eu fui junto, e fiquei na praia olhando eles trabalhando de longe dentro dos barquinhos, recolhendo as redes, quando um aerodeslizador passou e jogou uma bomba em cima de alguns trabalhadores. Não era nada muito forte, mas matou varias pessoas. bombas e mais bombas foram jogadas, deixando muitos mortos e outros varios no meio da água tentando nadar, mas ai eles soltaram uma especie de bombas eletricas, que eletrificaram toda a água, então queimaram todos os que ainda nadavam na água... Incluindo meus pais- Falei e deu uma pausa, já tentando segurar as lagrimas e um grito de frustração- Eu vi tudo... Eles se contorcendo de dor por conta do choque, o mar azul ficar vermelho, as bombas jogando corpos na água, tudo. Depois daquilo os rebeldes que sobraram resolveram acabar com o levante por conta do medo deles. Tive de ficar com meu tio bebado que só estava em casa de vez em quando, me cuidando sozinha e vagando meio sem rumo pelo meu distrito, sem nem sair de casa direito. Levei anos para cosneguir chegar perto da praia de novo, mas ainda tenho medo.
   - E você nunca teve ninguem mais? Um amigo, um primo, uma tia legal... nada?- Matew perguntou agora mais interresado
   - Bem... Quando eu tinha uns 8 anos conheci um garoto na escola que virou meu melhor amigo. Com o tempo fomos ficando mais proximos e quando me dei conta, esta apaixonada por ele, mas quando tinha uns 12 anos, um ano depois que meus pais morreram, ele foi enforcado na praça por tentar roubar comida para sua familia, e eu nunca consegui dizer nada para ele- Olhei para meu pulço enfaixado e suspirei- Foi ai que começei a me cortar
Ficamos em silencio por um tempo. Acho que ele estava digerindo a historia toda, mas eu fiquei imaginando o que poderia ter acontecido se fosse diferente. Se eu te vesse pais que me amassem. Se eu tivesse um namorado legal. Se eu gostasse da água como qualquer outra pessoa no distrito 4.
E se, e se, e se. Não passavam de "e se", e isso fez com que lagrimas começassem a rolar pelo meu rosto, mas as enxuguei rapidamente

   - Bem- falei e me levantei- acho que vou tentar dormir. Boa noite... Matew...-falei e me virei para sair meio andando meio correndo para ir até o local onde todos dormiam
   Na verdade não consegui fechar os olhos por um bom tempo, porque aquela sensação horrivel de tristesa e solidão me dominava mais uma vez, como antigamente, antes de eu começar a melhorar. Solitaria. Não mais amada. Estranha. Me sentia tudo isso e muito mais coisas bem piores, me arrependendo de ter contado a ele e de saber que cameras transmitiriam isso para toda Panem, me fazendo de fraca. Aquele impulço de me cortar estava começando a me dominar novamente, o impulso de me castigar por ser tão fraca, tão inutil, tão estranha. Então me enfiei debaixo do saco de dormir, cobri meu rosto com as mão e comecei a chorar baixinho como fazia antes, para que ninguém pudesse me ver, e fiquei lá chorando como nunca até dormir
   Na manhã seguinte já me sentia melhor, e na verdade me sentia como se estivesse de porre, como se tivesse bebido a noite inteira ontem, porque minha cabeça doia, me sentia meio tonta e não lembrava exatamente do que tinha acontecido, mas na verdade, isso era até bom. Depois de ter certesa que não estava com cara de chorro, me levantei e fui comer com os outros. O sol ainda estava nascendo no céu, e ainda estava meio escuro, mas mesmo assim , todos já estavam acordados e comendo, até a Emy, que mesmo continuando horrivel, muito palida, estava deitada no colo do Mattew em quanto ele tentava faze-la comer algo, e isso fazia ele parecer feliz, estranhamente feliz.
Sinceramente, Emy não parecia muito melhor mesmo, porque ela estava com uma febre de uns 40°, não comia, e o que comia acabava vomitando com mais uns mls de sangue, fora o aspecto dela, com olheiras um tom meio esverdeado de pele e parecia que tinha emagrecido muito mais do que devia.
Assim que todos tinham terminado de comer, começamos a arrumar as coisas e fazer um inventario do que tinhamos. Quatro garrafas de água, algumas raízes e frutinhas estranhas (uma delas parecia um olho e era assustador, mas acabamos descobrindo que era comestível e muito boa), os sacos de dormir, o kit de primeiros socorros ( algumas poucas ataduras, as ultimas pilulas de remedio para febre, um pouco de linha, agulha, álcool), o que nos deixava em condições até boas, ainda mais porque todos sabiam caçar.
   Quando estávamos quase indo embora, comecei a ouvir uns sons estranhos e desafinados que começavam a aumentar cada vez mais. Olhei para o Viller e nos encaramos com preocupação, já que nós dois sabíamos o que estava vindo.
   - Se escondam! rápido!- falei e comecei a empurrar todo mundo na direção da selva para que agente se escondesse em algum lugar com a ajuda do Viller
   - O que esta acontecendo?- Nara perguntou
   - Você já vai ver- Viller respondeu e começou a puxar a gente para atras de uns arbustos altos- Agora, não importa o que aconteça, não façam, em nenhuma circunstancia, nunca, algum barulho até que eu ou a Coliz digamos, okay?
   Todos assentiram com a cabeça e nós ficamos lá, esperando e olhando  o litoral da ilha. Não demorou muito para que o que eu estava imaginando, aparecesse. Os sapos pretos gigantes. Dessa vez eles estavam atras de um garoto alto, magro todo machucado de cabelo escuro. Demorou um pouco até que eu reconhecesse como o garoto do distrito da Nara, acho que se chamava Lester. Ele continuou correndo com dificuldade até um dos sapos fazer ele tropeçar, então ela caiu no chão e os sapos começaram a rodear ele. Ouvimos o coaxar estranho dos sapos, os outros sons estranhos que eles faziam quando morriam, mas não tão altos ou numeroso quanto o som de Lester tentando se proteger com a lança e seus gritos de dor sempre que era pego por um dos Sapos. Mas não demorou muito para que os Sapos todos se voltassem contra ele e o derrubassem no chão, indefesso e machucado, tão vulneravel que logo se tornou o lanchinho dos sapos. O ar foi tomado pelos gritos agonizantes, profundos e desafinados dele, fazendo meu sangue gelar a cada grito, mas o pior foi o horrivel cheiro de sangue e carne que se espalhava rapidamente no ar. Demorou um bom tempo até que os gritos agoniantes do garoto começacem e ficar mais baixos até sumirem e o canhão sinalizar sua dolorosa, lenta e tortuosa morte. Os sapos começaram a se afastar deixando a mostra o que sobrou do corpo mutilado e despedaçado do coitado, então o aerodeslizador apareceu e começou a recolher o que consegui com as garras, depois foi embora.
   Simplesmente sentia uma enorme vontade de vomitar, chorar e correr dali por conta da chocante cena. As pessoas da Capital deviam estar de divertindo com a cena, mas nós estavamos horrorisados e enojados, tentado segurar a ancia de vomito e o medo. Só não saimos de lá correndo porque sabiamos que se nos mexessemos, farias barulho e acabariamos tendo o mesmo fim do Lester, já que não estavamos em condições de lutar. Ficamos lá, parados, tentando controlar a respiração, mas por algum motivo, os sapos começaram a se agitar de novo. Eles começavam a olhar para nossa direção e dar pesados e curtos saltos até onde estavamos. Como eu não sei, mas de alguma forma eles conseguiam nos ouvir, e se ficassemos parados, seriamos achados. Alguma coisa tinha que ser feita.    Estiquei meu braço e peguei uma pedra consideravelmente grande, depois a taquei com a maior força possível para outro lado, assim como Viller, que tinha intendido o que estava fazendo. Os Sapos viraram a cabeça na direção onde joguei a pedra, e quando Narra e Matew fizerem o mesmo, eles começaram a se mover para onde as pedras agora estavam. Quando eles já estavam longe, começamos a correr feito louco pela selva, junto a praia, tentando contornar a ilha.
Coliz Off

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